sábado, 24 de janeiro de 2015

Peça teatral "Cássia Eller - O Musical" - Apresentação de 23/01/2015

Olá, pessoas!

Fui à peça "Cássia Eller - O Musical" mas, infelizmente, o uso de câmeras fotográficas foi vetado. Sendo assim, as fotos que ilustram este post não são de autoria de Amanda Brants, mas são fotografias retiradas da internet.

Abraços, e boa leitura!
Caio César.


Hoje compareci à uma sessão espírita de mesa branca. Entretanto, a mesa branca foi substituída por um palco, e o espírito encarnou em uma atriz desconhecida de nome Tacy de Campos. Desculpem-me os incrédulos, mas esta é, para mim, a mais perfeita tradução do que presenciei em "Cássia Eller - O Musical".


Com texto de Patrícia Andrade, e produção de João Fonseca, Vinícius Arneiro, Gustavo Nunes, Fernando Nunes e Lan Lan, a peça conta toda a trajetória de Cássia Rejane Eller, desde sua infância, trancada por dias no quarto com seu violão, até o tumultuado ano de 2001, que culminou na sua morte a dois dias do Réveillon. Tacy de Campos, de uma forma cósmica, personifica Cássia Eller em todos seus mínimos detalhes - o jeito tímido nos bastidores, a voz rouca, o cabelo desgrenhado, e a irreverência quando com o microfone nas mãos. Além de Campos, a peça também conta com um elenco digno de muitos aplausos, tamanha a eficiência de suas interpretações - para dar conta de todas as fases da vida da cantora, os atores e as atrizes interpretam diversos personagens ao longo da história.


Fazem parte do elenco: Emerson Espíndola, talentoso ator que interpreta Marcelo Saback, Nando Reis, Ronaldo, além de um executivo de gravadora e de um outro personagem de nome Elder; Thainá Gallo, que interpreta Moema (o primeiro amor de Cássia) e a percussionista Lan Lan (que, na peça, descobri que teve um breve affair com a cantora, que era assumidamente bissexual); Eline Porto, que interpreta Cláudia e Maria Eugênia (a companheira que Cássia escolheu para constituir família e que, após a morte da cantora, tornou-se a guardiã legal de Chicão, filho de Cássia com um músico, a quem criara junto dela como filho de ambas, em uma decisão até então inédita para a Justiça brasileira, que não tinha regulamentação para casais homossexuais estáveis); Juliane Bodini, que interpreta Nanci (mãe de Cássia, e uma de suas principais apoiadoras) e Marilu (uma das namoradas que Cássia teve, e que foi trocada por Maria Eugênia após uma frustrada tentativa de viverem as três juntas); Jana Figarella, que interpreta Rúbia e Dora, além de ser a substituta de Tacy de Campos em algumas apresentações; e, por fim, Jandir Ferrari, excelente ator que se divide entre os papeis de Altair (pai de Cássia), o cantor Oswaldo Montenegro, um empresário de Cássia por ela dispensado, o produtor musical Guto Graça Mello, e Fernando Nunes. Além destes atores de qualidade inquestionável, havia no palco também uma banda, formada por Felipe Caneca, Pedro Coelho, Diogo Viola, Maurício Braga, e Fernando Caneca.


As atuações que mais se destacam, sem sombra de dúvida, são: Tacy de Campos, que entrega ao público uma verdadeira obra de força espíritas, encarnando uma Cássia Eller tão próxima da original que, por vezes, faz parecer que estamos prestigiando um verdadeiro show da falecida cantora; Emerson Espíndola, que canta com elegância "Ne Me Quitte Pas" quando interpretando Saback, e que personifica a voz de Nando Reis ao entregar belíssima versões de "Relicário" e "All Star"; e Thainá Gallo, que fez uma preparação física e visual surpreendentemente tangível de Lan Lan, uma das melhores percussionistas do país e que foi grande amiga de Cássia - aliás, confesso que foi uma surpresa saber que Cássia, mesmo depois de casada com Maria Eugênia, teve um breve caso com Lan Lan, e que esta foi a única história da vida da cantora realmente inédita para mim.


Como eu já pesquisei muito sobre a vida e a obra de Cássia Eller, eu já conhecia todo o enredo da peça, mas fiquei muito satisfeito com o resultado alcançado, graças ao talentoso elenco e ao texto brilhante de Patrícia Andrade, que nos revela a Cássia Rejane dos bastidores, que era tímida e insegura, que era uma mãe que se culpava pela sua ausência, e que, quando necessário, sabia impor seus interesses artísticos frente às decisões das gravadoras e empresários. A seleção musical da peça também é sensacional, quase um espetáculo à parte: sucessos da cantora, como "E.C.T.", "Segundo Sol", "De Esquina", "Com Você Meu Mundo Ficaria Completo", "1º de Julho", "Malandragem", entre outros, são postos lado a lado a canções importantes para a formação musical de Cássia, como "Mercedes Benz", "Ne Me Quitte Pas", "Come Together", "Je Ne Regrette Rien", "Smells Like Teen Spirit", entre outras. Ao todo, são 34 músicas - de acordo com o encarte da peça, que é muito bem trabalhado e recheado de detalhes e informações preciosas sobre a peça e seus realizadores.


Sem dúvida, "Cássia Eller - O Musical" se provou digno do sucesso que vem seguindo o musical por onde quer que ele passe, visto que está nas mãos de habilidosos produtores e diretores, e que conta tanto com uma banda sensacional e com um elenco incomparável. Tacy de Campos é, de fato, a grande estrela da noite, mas prefere se esconder debaixo dos caracóis de seus cabelos, tal qual Cássia Eller na vida quotidiana. Minha única crítica à peça é ao cenário: com uma lona preta, parecendo sacos de lixo, é muito pobre e mal ajambrado, com cara de improvisado, não combinando muito com a proposta dos musicais que começam a galgar espaço na dramaturgia cênica brasileira. Em suma, é uma peça para se reassistir e se deixar levar pela energia de Cássia Eller, que está no palco - encarnada na voz e nos trejeitos da atriz que a interpreta em cena.

Cássia Eller, junto de Maria Eugênia, sua companheira da vida, e Chicão, ainda recém-nascido

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