domingo, 3 de agosto de 2014

Peça teatral "Callas" - Apresentação de 03/08/2014

A vida de Maria Callas foi uma linda ópera, e ver sua história contada em um palco é a realização de um sonho para um fã de ópera e de música clássica como eu. O espetáculo "Callas", com texto de Fernando Duarte e direção de Marília Pêra, não foi uma surpresa - sua qualidade já me era certa quando vi o nome de Marília Pêra e de Sílvia Pfeiffer, que estrela a peça, interpretando Callas com uma profundidade fantástica. Além de Pfeiffer, há também Cássio Reis, que interpreta John Adams, jornalista e amigo pessoal de Callas, também fazendo um excelente trabalho. A peça é fantástica, o texto é brilhante, e o carisma que exala da obra de Maria Callas fez o público entender um pouco mais de sua figura nas coxias.


Cheguei ao teatro um pouco atrasado, mas consegui entrar e encontrar facilmente meu lugar - com uma excelente vista central do palco - sem problemas e antes da segunda campainha. Ao entrar no teatro, já senti o espírito operístico e narcisista que Callas tinha bem aflorados - tocavam algumas de suas árias mais famosas como música de fundo, e no palco haviam diversos manequins com seus vestidos icônicos. Ao começar o espetáculo, logo entendemos o porquê: o evento narrado é o encontro entre Callas e John Adams, ocorrido apenas um dia antes da morte da estrela, para falar sobre a exposição que Adams estava montando sobre a vida de Callas, sob curadoria da diva. John grava toda a conversa dos dois sobre os amores e os desamores da soprano, além de falarem sobre a família dela e dos homens famosos que passaram por sua vida. Ao longo do espetáculo, Callas experimenta vários vestidos, fazendo a troca de roupa em cena, enquanto discorre sobre figuras como Jackie Kennedy, Aristóteles Onassis, Clark Gable, Vivien Leigh, Montserrat Caballé, entre outras.


Sílvia Pfeiffer faz um excelente trabalho em cena, dando vivacidade e o tom blasé que Maria Callas fez de sua persona pública. Entretanto, a atriz ainda parece um pouco engessada no papel, mas tem potencial para melhorar em cena. Já Cássio Reis, que interpreta um jornalista homossexual discreto, faz bem o papel que lhe cabe, mas alguns toques do absurdo deixaram algumas cenas descabidas e fora da proposta. A história da soprano é muito bonita e muito trágica - Maria Callas é uma diva absoluta, e fez de sua vida um palco iluminado, mesmo no tempo que passou longe dos palcos. Seu grande amor foi, inevitavelmente, Aristo - no espetáculo, Callas confessa que foi com ele, do alto de seus 36 anos, que ela descobriu o orgasmo, e que eles foram muito felizes juntos, até Onassis descartá-la para conquistar a viúva Jackie Kennedy, com quem se casou. Ao fim da peça, Callas confessa todo seu amor por Onassis, e para de súbito na porta de entrada da galeria de arte onde aconteceria a exposição - Callas morreu de infarto em Paris, a 16 de setembro de 1977, um dia depois da longa conversa com John Adams.


A direção de Marília Pêra é impecável, e a equipe técnica realizou um trabalho primoroso e de qualidade na montagem do cenário e na composição do ambiente. Saí do Teatro Ulysses Guimarães, na Universidade Paulista (UNIP), com a sensação de que fui levado em uma jornada pela vida sofrida de uma mulher de fibra. "Callas" é um espetáculo teatral de qualidade inquestionável, e o trabalho dos atores é apenas mais um dos fatores que leva ao sucesso da produção.

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