sábado, 24 de agosto de 2013

Peça teatral "Jukebox - Uma Ficção Científica Musical" - Apresentação de 23/08/2013

Oi, pessoas!
Aqui está a resenha crítica da peça "Jukebox - Uma Ficção Científica Musical", conforme prometido! Tirei algumas fotos do espetáculo com meu celular - cuja câmera não é lá essas coisas, mas até que dá pro gasto... - e postarei junto ao texto! Espero que vocês gostem, e que se sintam inspirados a buscar novidades artísticas para incrementar sua bagagem cultural!
Obrigado a todos!
Caio César.


Desde que me entendo por gente, o teatro faz parte da minha vida. Fosse nas minhas brincadeiras com as primas, fosse nas peças infantis que encenava todo ano na escola, sempre estive em contato com a milenar arte de interpretar. Mas, até esta noite, eu conhecia apenas aquele teatro comum, que seguia uma linha de narração com início, meio e fim – aquele teatro shakespeariano tradicional que é muito presente no Brasil. Até esta noite, quando tive contato com o mundo intergaláctico e cosmológico da peça-instalação “Jukebox – Uma Ficção Científica Musical”, apresentada no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de Brasília, em cartaz desde o dia primeiro deste mês.


Fui ao teatro acompanhado da minha querida amiga Amanda Brants, que foi quem me ensinou a abrir mais a minha mente e a desvendar novos mistérios da vida noturna. Ao lá chegarmos, deparamo-nos com um palco multiângulo, pronto para uma ação em 360 graus. Quem nos recebeu foi um astronauta – mais tarde, durante a peça, acabamos por descobrir que se tratava do Major Tom – que nos entregou o menu da noite – uma lista de músicas, e de seus significados, que poderíamos escolher para tocar durante a apresentação da peça. Um pouco receosos e completamente perdidos, acabamos declinando do convite e apenas nos sentamos. O telão anunciava os planos da noite, e falava sobre os artistas da cultura pop que iríamos encontrar por lá, por meio de suas músicas.


De acordo com o folheto, a história da peça é a seguinte: três pesquisadores astrônomas – Gigante Vermelha (interpretada pela sensual e esvoaçante Adriana Seiffert), Cauda de Cometa (interpretada pela linda e loira Dedina Bernardelli) e Zombjörk (interpretada pela pacata e talentosa Julia Deccache) – estão profundamente envolvidas em uma pesquisa para descobrir mais sobre universos insondáveis e sobre as ondas vibracionais de propagação das sensações e dos afetos. A partir dessas ondas, é possível montar projeções holográficas ficcionais dentro dos sonhos e por meio da música. Cada pesquisadora tem um foco em sua pesquisa sobre as ondas, mas todas concordam que há uma explicação para o Big Bang, fenômeno dito como o princípio de todo o Universo.


Dentro de uma estação espacial de pesquisa com campo gravitacional próprio, as pesquisadoras estão todas envolvidas com suas pesquisas quando, então, um forasteiro fica preso na gravidade da estação espacial de pesquisas Delli, construída entre as três luas de Uptar Nassar. Quem pilota a nave é Major Tom, um astronauta que viaja pelo espaço em direção à Grassandur, planeta estéril, onde busca sinais das formas de vida que ali habitaram, que acaba retido no campo gravitacional gerado pela estação Delli, e começa a sofrer interferências dos sistemas de captação e emanações holográficas de sonhos da plataforma. Ele, então, começa a ter vários sonhos, misturados à realidade, e que o deixam em um estado letárgico entre o real e o imaginário – a partir daí, muitas coisas começam a acontecer. Ingrid, a mulher de Major Tom, que ele julgava estar morta, reaparece em uma forma de intensa densidade e espiritual, e começa a mexer com os credos do oficial, um cético assumido.


A peça é dividida em dez blocos, e os atores interpretam mashups de músicas pop bem famosas (“Like a Virgin”, de Madonna, e “Cosmogony”, da Björk – sim, é intencional o vínculo da temática do disco “Biophilia”, da islandesa, com toda a história da peça, mas falo disso mais à frente – só para começar a lista...). Como a peça é também uma instalação artística, no período diurno, quando não há apresentações, o local recebe visitantes, que escolhem na jukebox – máquina reprodutora de discos de vinil, muito comuns na década de 1950, inventada no final do século XIX – as músicas a serem executadas na peça à noite. É um projeto ousado e interessante, e o resultado final é fantástico – a sincronia da performance dos atores com os tempos exatos das músicas me deixou em dúvida, em alguns momentos, confesso, se eles estavam cantando de fato, ou se era playback.


Para meu alívio, logo vi que era ao vivo mesmo, e que não é fácil fazer tudo desta forma. Assim sendo, fiquei realmente impressionado com a dinamicidade dos atores com o público, disposto das mais diversas formas em torno do palco, mas muito incomodado algumas vezes, por não conseguir enxergar cem por cento das cenas – haviam telões de LED no meio do palco, que bloqueavam totalmente a visão em alguns casos, e obrigando tanto eu quanto a Amanda a mudarmos de lugar algumas vezes. Sim, você podia ficar andando pelo espaço, cantar, dançar, fazer mil e uma estripulias – é um espetáculo contemporâneo interativo. Foi uma experiência até então inédita para mim, e gostei muito.


O repertório apresentado nesta noite foi uma delícia de se ouvir: “Impressive Instant”, da Madonna; “All You Need Is Love”, dos Beatles; “Come as You Are”, do Nirvana; “Wonderwall”, do Oasis; “Infinito Particular”, da Marisa Monte; “Derretendo Satélites”, do Kid Abelha; “Pyramid Song”, do Radiohead; “Space Oddity”, do David Bowie; “Blowin’ in the Wind”, do Bob Dylan; “I Still Haven’t Found What I’m Looking For”, do U2; “Nebulosas do Amor”, dos Paralamas do Sucesso; “Lindo Balão Azul”, da Turma do Balão Mágico; entre muitas outras músicas tão interessantes quanto. Além disso, muitas das músicas eram originais da companhia teatral, compostas por Felipe Storino e Flavio Graff, mas todas trazem uma boa energia que coincide, muitas vezes, com a mensagem passada pelos clássicos do pop e do rock tanto internacional quanto nacional.


A inspiração no mais recente trabalho desenvolvido pela cantora islandesa Björk – o projeto multimídia do álbum “Biophilia” – é clara e ostensiva, desde o design gráfico do menu, que traz o traçado da galáxia Biophilia presente no aplicativo para tablet lançado por Björk para divulgar o trabalho, até as músicas presentes no roteiro (são quatro). E isso só deixa o trabalho ainda mais interessante, visto que a atmosfera trazida pela islandesa nesse álbum, tão deslocado de seus mais recentes trabalhos, pode, certamente, ser transferida para a realidade e reinterpretada na forma de um trabalho cênico. Fiquei bem satisfeito com o que vi.


Em contrapartida, devo admitir que grande parte do que falei aqui sobre a sinopse da peça está no menu entregue na porta – não tente entender muito da história apenas assistindo ao espetáculo. Saí muito feliz de ter cantado diversas músicas, mas saí também sem entender quase nada do que havia se passado ali. Uma peça contemporânea, justamente por não ter a preocupação de seguir uma cronologia, acaba por mais confundir o espectador do que inteirá-lo de fato ao roteiro. Fiquei perdido em alguns momentos da apresentação, fosse porque mudara toda a composição cênica dos atores, fosse porque os telões estavam atrapalhando a vista, e juro que saí sem respostas sobre algumas coisas. Ainda estou me adaptando às novas regras do jogo, mas não creio que assistiria a uma peça assim sem um roteiro detalhado em mãos, como o entregue pelos atores na porta do Pavilhão de Vidro do CCBB Brasília. Em suma, foi bom, mas mal-explicado em algumas partes – só o folheto responde algumas das indagações não respondidas.


2 comentários:

  1. Sim! Sensacional (tanto a peça como o texto)... Sobre os fatos e nao explicações, a peça além de nao ter um "roteiro" nao tem uma relação direta entre cada ato. Estes são microcontos, como li na descrição da peça e apenas contam fragmentos da historia de cada um ali :)

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    1. Hey, Chester! Obrigado por ler e comentar o texto! De fato, a peça é maravilhosa! Fiquei um tanto perdido em alguns momentos, mas entendi cada história ao ler a sinopse de cada microconto. É uma obra contemporânea idiossincrática, que visa a desconstruir o teatro tradicional em nome de uma divagação musical sobre os futuros do planeta Terra e sobre as infinitas possibilidades de vida que podem haver em galáxias ainda desconhecidas. Fantástico! Abração!

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